Li com cuidado o material oferecido com o título "Políticas Públicas Socialistas, como Planejá-las e Aplicá-las". Fora a parte inicial de conceituação do socialismos, o texto oferece as pautas dos segmentos do PSB, nem sempre bem articuladas umas com as outras, embora sem grandes conflitos. Achei bem interessante e estou certo de quem tem vivência partidária reconheceu no texto essa coleção de propostas "setoriais".
Diante dessas constatações gostaria de fazer algumas breves considerações:
1. A definição clássica de socialismo reconhecendo que a luta de classes fica estabelecida pela contradição entre capital e trabalho, ou da luta entre os donos dos meios de produção e dos trabalhadores que vendem sua força de trabalho por valores aviltantes não é suficiente para a construção de propostas de políticas públicas socialistas nos limites de um país regido pelas regras do capitalismo.
O que eu quero dizer é que a construção de propostas de políticas públicas para a atualidade ainda não nos autoriza o vislumbre da construção de uma estado socialista na atualidade. Tanto isso é verdade que a discussão inicial parece um pouco deslocada do conjunto de proposições feitas pelos setores do PSB para políticas públicas municipais de governos liderados por membros do partido e não necessariamente são "políticas socialistas".
São duas questões então que creio poderiam ter ficado mais explicitas: (i) a tarefa agora não é a da construção do socialismo, mesmo porque teremos que encontrar formas bem diversas da experiência do "socialismo real" conhecido no século XX. E (ii), acho que deveria ter sido pontuado claramente que o que se fez aqui foi reunir as proposições dos setores organizados do PSB, o que não tem problema algum. Muito diferente disso, é uma grande oportunidade de apresentar o que já temos organizado para aqueles que estão fazendo o curso e não conhecem o PSB.
2. Senti falta de ver pontuado no texto de proposição de políticas públicas socialistas das constatações mais recentes e mais ricas que o PSB fez de forma articulada que constam do Projeto Brasil. A começar pela consideração que os dois mais graves problemas a serem superados para a construção de um projeto para o país são (i) a enorme desigualdade de distribuição de renda do país, que se reflete nas concentrações de toda espécie, inclusive as de caráter regional e (ii) o enorme desgaste das instituições públicas no país. Esses temas estão no documento em discussão para o próximo Congresso do PSB em março de 2018 e são essenciais para ligar as agendas dos segmentos com a necessidade de mudanças estruturais do estado brasileiro.
De qualquer forma, a sistematização das pautas dos segmentos do partido em um único documento foi um esforço muito importante, devemos reconhecer.