1 - Quais as competências e habilidades necessárias para que um chefe consiga compatibilizar o interesse/motivação do servidor com a produtividade esperada?
Para além de se ter muito claro, na nossa mente, quais são as metas que se pretende atingir, é preciso flexibilidade e saber ouvir as pessoas. Por vezes ainda persiste a ideia de uma hierarquia rígida, onde se pensa que a "técnica do chicote" funciona eficazmente com nossos subordinados ("técnica de chicote" é aqui uma metáfora que representa um tipo de liderança onde o superior hierárquico pensa que ser líder é dar ordens e impor o seu cumprimento, se necessário, através de sanções disciplinares ou de qualquer outro tipo). Na verdade, não é isso o que ocorre no dia a dia, sendo que este estilo de gestão autoritário gera revolta, a qual é impossível de controlar a partir de um certo ponto crítico. Em geral, tal sistema de liderança gera baixa produtividade, apatia e revolta dos subordinados, revolta esta que leva em geral, como resposta do líder à mesma, ao aplicar de sanções e de outros tipos de penalizações, as quais contribuem para um crescimento do mal estar sentido, da improdutividade e da revolta por parte dos seus subordinados. Em geral, tal modelo de liderança acaba na incapacidade de o departamento ou órgão, público ou privado, responder aos seus objetivos e metas, gerando uma letargia e apatia visível, não raras vezes, no serviço público e privado.
Por isso, uma das capacidades essenciais no líder é a de persuasão, aprendendo a ouvir os seus subordinados naquilo que os mesmos têm a dizer, tendo sempre muito claro as metas e objetivos a atingir, mas com respeito por estes naquilo que os mesmos de legítimo lhe tenham a apresentar.
Neste aspeto, na psicanálise há um ramo interessante que nos ajuda na análise das relações interpessoais chamado de Análise Transacional, por vezes utilizado na formação de gestores e colaboradores. A Análise Transacional pressupõe três estados de ego (Pai, Adulto e Criança), os quais são indutores uns dos outros. Desta forma, um Pai Crítico -- personagem que encarna a metáfora do líder que prossegue uma "técnica de chicote" -- gera do outro lado, i.e., do lado dos seus subordinados, uma atitude de Criança Adaptada ou de Criança Rebelde -- estes dois estados de ego se tornam instáveis entre si, podendo a qualquer momento a adaptação dar lugar à rebeldia e vice-versa --, o que dificultará, e muito, o atingir das metas e objetivos pretendidos pela liderança em causa.
Na verdade, a melhor atitude a adotar por parte do líder é a que corresponde ao estado de ego de Adulto, indutor na relação interpessoal do referido estado de ego de Adulto no seu interlocutor -- mesmo que este inicialmente seja de Pai ou de Criança --, o qual pressupõe o saber ouvir e respeitar o outro, numa relação mútua de partilha de responsabilidades e objetivos na persecução das metas a atingir. Para mim, e na minha experiência pessoal, esta será a relação ideal de liderança, a qual não deixa de pôr de lado também o saber punir quando necessário, mas sempre com o reconhecimento de justiça na sua ação disciplinar por parte de seus subordinados. É uma posição de maturidade e de equilíbrio, com a flexibilidade necessária para se saber ouvir e atender ao que de pertinente nos é colocado.
2 - Você acha possível alcançar uma administração pública eficiente em meio a uma crise midiática? Quais instrumentos são necessários?
Apesar da óbvia dificuldade, é sempre possível tentar atingir esse objetivo, isto pelo menos se a atitude da mídia for objetiva e informativa, o que por vezes não é o caso. A regra é sempre transparência e objetividade na mensagem transmitida pelo gestor público. Contudo, há que reconhecer que não raras vezes a mídia se torna num instrumento da luta política, distorcendo as questões, inclusive com patente desonestidade intelectual. Aqui seria necessário a existência de uma opinião pública madura, assertiva e, sobretudo, bem consciente e informada, algo que no Brasil não se vê ainda em abundância. Na verdade, vindo de fora se observa no Brasil uma atitude em geral naife, alvo de uma fácil manipulação num grau que hoje na Europa, por exemplo -- esse é um caso que eu bem conheço por razões de vida pessoal --, é difícil de se ver. E, para isso, nada ajuda o mito ainda hoje muito presente na mente de muito brasileiro de que lá fora tudo é melhor, só no Brasil é que há corrupção -- ou esta é maior por Terras de Vera Cruz do que por lá fora --, etc., o que em nada corresponde à verdade -- a corrupção na Europa, por exemplo, consegue por vezes ser bem maior e generalizada do que a que se observa no Brasil, e os serviços públicos funcionam por lá pior do que por aqui, realidade que bem conheço e da qual posso dar extensos e documentados exemplos. Por isso, a ideia de que "só no Brasil" não é mais do que um mito que em nada corresponde à realidade e que só denota preconceito e ignorância face ao que realmente se passa lá fora.
Assim, penso que para se conseguir uma administração pública eficiente em meio a uma crise mediática se torna necessário transparência e muita objetividade na informação transmitida ao cidadão, sendo contudo fatores dificultadores desse mesmo objetivo a falta de sentido crítico objetivo e informado e, sobretudo, a manipulação efetuada pela mídia em virtude de interesses políticos inconfessos, muitas vezes propagado pelos próprios donos dessa mesma mídia. Não será por acaso que hoje se fala muito em "fake news" (notícias falsas) por esse mundo fora -- não falo só na realidade brasileira --, sendo que muitas dessas notícias falsas são na verdade propagadas por grandes órgãos de mídia, como por exemplo, e para não usar o caso brasileiro, a CNN, o New York Times, entre outros, isto só para citar um exemplo hoje fortemente vivido nos Estados Unidos e na luta política movida contra Donald Trump, cuja vitória eleitoral foi sobretudo produto de uma profunda incompetência política de seus adversários.
3 - Como a opinião pública pode influenciar o sucesso das mudanças organizacionais?
Sendo a mesma crítica da realidade vivida, auditando os gestores públicos. No meio anglófono há um vocábulo que descreve esta mesma necessidade (accountability), a qual corresponde à ideia de que todo o gestor público deve prestar contas de toda sua atividade enquanto tal. Contudo, para que isso seja verdadeiramente funcional, é preciso honestidade intelectual nos questionamentos efetuados, não procurando usar como arma política o ofuscamento de questões que são intencionalmente distorcidas com intuito de as usar numa luta política desleal. Penso pois que as ideias chave aqui são: prestação de contas, honestidade intelectual nos questionamentos efetuados, e sobretudo lealdade na oposição política efetuada, não usando falsas questões e inverdades para tentar influenciar o eleitor na normal luta politica existente em toda a democracia digna desse mesmo nome.
4 - Moralizar o serviço público é apenas implantar sistemas de controle ou haveria outros mecanismos para melhorar o debate sobre horários e produtividade dentro da administração pública?
Obviamente que deve existir flexibilidade na condição de as metas propostas serem atingidas. Há hoje diversos recursos, como o home office, que podem e devem ser usados, estando hoje também em voga por esse mundo fora os bancos de horas, os quais permitem uma gestão mais eficiente e barata da mão-de-obra. Mas sobretudo são precisas regras claras e que as mesmas sejam efetivamente cumpridas. Mais do que uma rigidez horária controlada através de mecanismos que na prática se podem tornar também ineficazes, é preciso clareza de regras objetivas efetivamente cumpridas.